Psicologia Existencial: Uma Visão Filosófica e Terapêutica do Ser Humano (Introdução)
Uma introdução bem resumida para que você possa conhecer um pouco da visão existencial e algumas das correntes.
INTRODUÇÃO TEÓRICA
Psicologia Existencial
5/8/20243 min read


A Psicologia Existencial é uma abordagem terapêutica fundamentada diretamente na filosofia existencial e que se propõe a compreender o indivíduo em sua condição única e singular, ressaltando o modo particular como cada pessoa experiencia e constrói o sentido de sua existência no mundo. Em vez de classificar problemas em categorias pré-determinadas, essa abordagem considera que as dificuldades emocionais e existenciais são expressões das questões universais da existência, tais como liberdade, responsabilidade, finitude e busca de sentido (van Deurzen; Arnold-Baker, 2005).
A filosofia existencial, base para essa prática terapêutica, enfatiza que somos seres livres, responsáveis por nossas escolhas e que nossa vida é permeada por desafios que exigem contínua reflexão e decisão. Assim, o terapeuta existencial busca auxiliar os indivíduos a assumirem sua existência com autenticidade, enfrentando as inevitáveis angústias e desafios inerentes à condição humana (Mandic, 2024).
Principais Ramificações da Psicologia Existencial:
1. Daseinsanálise (Análise Existencial Heideggeriana)
Inspirada diretamente na filosofia de Martin Heidegger, a Daseinsanálise considera o ser humano (Dasein) como um ser lançado no mundo, constantemente confrontado com suas possibilidades e limites existenciais. As crises pessoais são vistas como momentos de ruptura que possibilitam encontros autênticos consigo mesmo, libertando o indivíduo para viver com maior propriedade e autenticidade sua existência (Mandic, 2024).
Conceitos fundamentais: Ser-no-mundo (In-der-Welt-Sein), angústia (Angst), autenticidade, ser-para-a-morte.
2. Psicoterapia Existencial-Fenomenológica Britânica
A abordagem fenomenológico-existencial britânica, desenvolvida por terapeutas como Emmy van Deurzen e Ernesto Spinelli, é uma perspectiva terapêutica que evita rótulos diagnósticos e interpretações prontas, valorizando a descrição detalhada da experiência vivida pelo cliente. O foco está na exploração cuidadosa dos modos pelos quais cada pessoa interpreta sua existência, enfatizando as dimensões física, social, pessoal e espiritual da vida (van Deurzen; Arnold-Baker, 2005).
Principais conceitos: Dimensões existenciais, clareza existencial, descrição fenomenológica.
3. Psicoterapia Existencial Sartreana
Baseando-se especificamente na filosofia de Jean-Paul Sartre, essa abordagem ressalta a absoluta liberdade e responsabilidade individuais. Sartre defende que somos condenados a ser livres, e que essa liberdade radical gera ansiedade e angústia, mas também a possibilidade de uma vida autêntica. A psicoterapia existencial sartreana concentra-se em ajudar o indivíduo a identificar e superar a má-fé (autoengano), assumindo plenamente sua responsabilidade existencial (Cooper, 2017).
Principais conceitos: Liberdade absoluta, má-fé, responsabilidade existencial.
4. Psicoterapia Existencial segundo R. D. Laing
Ronald D. Laing propôs uma visão profundamente existencial sobre fenômenos considerados tradicionalmente patológicos, como esquizofrenia e outros distúrbios psicóticos. Para Laing, tais condições são compreendidas como respostas existenciais válidas a experiências intoleráveis e perturbadoras do ser-no-mundo. Sua abordagem propõe um encontro terapêutico genuíno e autêntico, no qual o terapeuta busca compreender a experiência subjetiva do paciente sem julgamentos patológicos (Cooper, 2017).
Principais conceitos: Comunicação existencial, autenticidade relacional, significado dos estados psicóticos.
Importância da Psicologia Existencial
A psicologia existencial é uma abordagem indispensável para aqueles que buscam ir além da mera resolução sintomática, focando na compreensão mais profunda das questões fundamentais que acompanham a existência humana. Em tempos onde prevalecem visões técnicas ou reducionistas, a abordagem existencial resgata a complexidade da experiência humana, convidando-nos a enfrentar nossas questões existenciais com coragem e responsabilidade, contribuindo para uma vida mais consciente, significativa e autenticamente vivida (van Deurzen, 2009).
Referências Bibliográficas
COOPER, Mick. Existential Therapies. 2ª ed. Londres: Sage, 2017.
MANDIC, Mo. Heideggerian Existential Therapy: Philosophical Ideas in Practice. Londres: Routledge, 2024.
VAN DEURZEN, Emmy; ARNOLD-BAKER, Claire (eds.). Existential Perspectives on Human Issues: A Handbook for Therapeutic Practice. Hampshire: Palgrave Macmillan, 2005.
VAN DEURZEN, Emmy. Psychotherapy and the Quest for Happiness. Londres: Sage Publications Ltd, 2009.