Resenha: Body Matters: A Phenomenology of Sickness, Disease, and Illness
A obra Body Matters: A Phenomenology of Sickness, Disease, and Illness, escrita por James e Kevin Aho, apresenta uma profunda análise fenomenológica sobre a experiência humana frente à doença, ao adoecimento e à medicina moderna. Através da perspectiva fenomenológica inaugurada por Edmund Husserl e aprofundada por pensadores como Heidegger e Merleau-Ponty, os autores oferecem uma crítica contundente à visão mecanicista e instrumental predominante na medicina contemporânea.
RESENHAS CRÍTICAS
3/19/20252 min read


A obra Body Matters: A Phenomenology of Sickness, Disease, and Illness, escrita por James e Kevin Aho, apresenta uma profunda análise fenomenológica sobre a experiência humana frente à doença, ao adoecimento e à medicina moderna. Através da perspectiva fenomenológica inaugurada por Edmund Husserl e aprofundada por pensadores como Heidegger e Merleau-Ponty, os autores oferecem uma crítica contundente à visão mecanicista e instrumental predominante na medicina contemporânea.
Os autores propõem um retorno à distinção original feita pela fenomenologia entre Körper, o corpo entendido apenas como objeto físico, e Leib, o corpo vivido e experienciado na sua subjetividade e singularidade. A partir dessa diferenciação, os autores problematizam o reducionismo da medicina moderna, que tende a negligenciar a dimensão subjetiva e cultural da experiência de adoecimento, transformando sofrimento existencial em simples disfunção biológica. A obra destaca como o sofrimento humano não é adequadamente capturado pelos diagnósticos e tratamentos médicos padronizados, que frequentemente desconsideram a dimensão existencial e social da saúde.
Entre os conceitos fundamentais abordados estão também as categorias fenomenológicas essenciais de corpo-objeto (Körper) e corpo-vivido (Leib), fundamentais para compreender a experiência da saúde e da doença. Destaca-se o conceito de Being-in-the-world (estar-no-mundo), uma contribuição central de Heidegger que descreve como o ser humano é intrinsecamente ligado ao mundo, e não uma entidade isolada. Este conceito possibilita compreender o paciente de forma integral, não apenas por meio de sua doença física, mas como um ser que está constantemente em interação com o seu contexto social, cultural e histórico.
Outro conceito fundamental discutido pelos autores é o da "medicalização", que se refere à tendência moderna de tratar situações comuns da vida como condições médicas, frequentemente desconsiderando o contexto existencial. A crítica à medicalização é complementada pela reflexão sobre o fenômeno moderno da "patologia da aceleração", na qual o ritmo acelerado da vida contemporânea leva a diversos distúrbios físicos e psicológicos, destacando como o tempo e a temporalidade são elementos essenciais na experiência humana e clínica.
Além disso, os autores exploram os termos sickness (adoecimento, considerando o impacto social e cultural), disease (doença como disfunção biológica objetiva) e illness (experiência subjetiva da doença). Essa tríade conceitual é relevante para estudantes e profissionais, por permitir uma análise mais profunda e completa da condição humana diante da doença.
O livro se destaca por sua capacidade de esclarecer com clareza os conceitos fenomenológicos centrais, fugindo ao jargão técnico frequentemente associado à fenomenologia. Com uma linguagem acessível, mas rigorosa, a obra tem como ponto forte o compromisso em tornar acessíveis conceitos filosóficos complexos, oferecendo reflexões relevantes não apenas para profissionais da saúde e filósofos, mas também para qualquer indivíduo interessado em uma visão crítica sobre a saúde e a medicina.
Em resumo, Body Matters é uma obra fundamental para estudantes de psicologia, medicina e filosofia interessados na compreensão das limitações da medicina atual e nas potencialidades de uma abordagem existencial e fenomenológica que considere dimensões essenciais como o corpo vivido, a temporalidade e a intersubjetividade. Assim, o livro contribui significativamente para uma reavaliação crítica dos pressupostos da medicina moderna e para a possibilidade de uma prática clínica mais autêntica, centrada na experiência vivida pelo paciente.
AHO, James; AHO, Kevin. Body Matters: A Phenomenology of Sickness, Disease, and Illness. Lanham: Lexington Books, 2008.